Hans Herrmann Swoboda começou pintando paisagens. Tinha 16 anos. Depois, profissionalizou-se como projetista da Aeronáutica e um de seus trabalhos mais importantes aconteceu no mundo da aviação, quando estava à frente do projeto de criação dos primeiros aviões Bandeirante no Centro Técnico da Aeronáutica. Hoje, com 74 anos, aposentado como projetista, dedica cem por cento de seu tempo à pintura, mostrando que sua mente está em perfeita harmonia com a de um jovem de 20 anos, não só pela riqueza de detalhes e de imaginação, mas também pelo tema de sua preferência: ficção científica, retratado em quadros elaborados no meio de muito verde, na presença de dois cachorros, um gato e dois macaquinhos, em São José dos Campos. O artista cria em casa, sob a luz do dia, dedicando o resto do tempo à leitura e à programação de TV.
Além de ficção científica, Swoboda mostra em seus quadros paisagens do espaço, pré-históricas e interessantes composições geométricas com efeitos tridimensionais. Tudo em acrílico sobre cartão e sem nunca ter ido à escola. Para as pessoas que querem iniciar-se na arte, ele diz: “Tem que insistir, corrigir e aperfeiçoar constantemente. Um grande artista nunca pode estar satisfeito com seu trabalho. Não há necessidade nem de ser exigente com material, papel e tipo de tinta nem de grandes leituras. Existem pintores analfabetos. A gente pode pintar o que está vendo, é mais fotográfico.”
Uma outra ideia que pode ser útil ao iniciante nas artes plásticas é o próprio trabalho de Swoboda, que não é o retrato do seu dia a dia: “Eu pinto o meu pensamento. Por isso, meu trabalho é avançado nos temas. Na maneira de reprodução, contudo, é quase naturalista, extremamente bem executado. Geralmente, quem pinta o surrealismo faz uma pintura jogada. Eu não. O meu surrealismo, não é sem formas, ao contrário, é com traços exatos. É a criação de formas aerodinâmicas e harmônicas, o que tem muito a ver com a minha profissão.”
A ficção na TV
Quando Swoboda não está totalmente voltado a seu pensamento ou às voltas com suas exposições já realizou dezessete individuais mostrando seus mais de mil trabalhos, quarenta deles, aliás, atualmente em exposição no Clube Transatlântico – a televisão ocupa seu tempo. “Acordo cedo, dou um passeio e acompanho pela TV, a política e me aborreço com a Globo que é antimalufista. É um crime eleger um presidente de 75 anos. Eu sei das limitações das pessoas com essa idade. A pessoa não é mais tão criativa. No meu caso, por exemplo, existe um processo de criação muito calmo e lento. Para ter perfeição e harmonia completa em cada um dos meus trabalhos demoro no mínimo quinze dias e todo mundo sabe que um presidente não tem tanto tempo. Ele está apertado de todos os lados.”
Após os jornais que o aborrecem e depois de algumas horas de pintura do pensamento, Swoboda almoça, volta à pintura, parando por volta das 18 horas, para assistir à nova novela da Globo que “parece boa”. “A das 7 da noite eu não assisto, é horrível. Então mudo de canal, vejo as notícias da TV Manchete e do canal 4 que são menos tendenciosas. Antes assistia o Chico Anísio, mas ele sofre da mesma doença que a emissora onde trabalha.”
Finda a sessão TV, é hora da leitura. Para quem adivinhar, um prêmio… É ficção científica. Os autores preferidos de Swoboda são Ray Bradbury, Arthur Clark e Roberto Silverberg. Você pode não concordar com todas as ideias de Swoboda, contudo, ele garante que estes escritores são os melhores no assunto e que não existem muitos mais, infelizmente.
Se você quer envelhecer sem “matar” o jovem que existe em você pode fazer da vida e do lazer de Swoboda um exemplo e boa sorte.
Folha de São Paulo, 22 de setembro de 1984
Por Tania Regina Pinto