Hans Hermann Swoboda, alemão de Berlim, 72 anos, engenheiro de profissão e pintor por opção, passou a maior parte de sua vida prevendo o futuro, como ele diz: “sempre que tinha que fazer um projeto, tinha que sentir como ele se comportaria no futuro“. E esse sentimento acabou por influenciá-lo nos quadros, e, recentemente, no livro que escreveu…

A ficção científica é o tema da maioria de seus quadros e agora aparece num livro*. Vendo os quadros de Swoboda, nota-se o futuro, com paisagens extraterrenas, sempre com a presença de aeronaves em mundos novos, que o projetista-pintor idealizou. Walmir Ayala disse que “o trabalho de Swoboda contém uma nova poesia a de uma perspectiva cósmica filtrada de todo o terror, investida de segurança e monumentalidade” e, isso tudo, é sentido no visual dos quadros de mundos da ficção e nos universos de jogos geométricos.

Ele fala pouco de seu livro, gosta mais de falar e mostrar suas pinturas, mas depois de mostrar vários quadros (nem metade dos que já pintou), resolve contar um pouco do conteúdo do livro: “Nele há um projeto de uma estação auto suficiente, girando em torno da Terra, que sobreviveu a Guerra Atômica da Terra. Isso se passa num futuro não muito distante, eu diria daqui uns 30 anos. Tento mostrar os erros e abusos ecológicos cometidos pela população do passado (note que estamos no ano 2000 e isso quer dizer que esse erro foi nosso). Esse desastre é sentido pelos sobreviventes dessa estação espacial e, a partir daí, começa-se um novo mundo, com pessoas conscientes, sabendo que não se deve cometer os mesmos erros. No final do livro é que se sente o difícil recomeço de uma vida“.

Aos 72 anos, com muitos prêmios e exposições de quadros, Swoboda sente que teve uma vida muito produtiva, trabalhando constantemente e tendo esperança de que seu verdadeiro valor, como pintor, seja reconhecido “e não duvido disso“, afirma ele. Conversando mais sobre pintura e literatura, nota-se que uma preocupação muito grande em relação ao futuro o domina: “vejo, preocupado, todo desenvolvimento, mundial, com acumulação de armas atômicas e o dinheiro tomando conta de todo sentimento humano. Sem contar as condições de desequilíbrio ecológico“.

Como exemplo, ele cita a Via Dutra: “Quando vim para cá em 1952 a Dutra era recente e tinha imensas florestas ao longo dela. Agora acabou tudo e não se fez nada. O que se vê são árvores e capim queimados. Estão acabando com a fauna e flora e isso é muito triste“. Ele diz, ainda, que existe solução para essa loucura das cidades grandes: “o pessoal se orgulha de ter concentrado, numa pequena área de terra, 9 milhões de pessoas. Eles deveriam é se envergonhar disso. Ao invés de cidades enormes, poderia se projetar cidades com 100 mil habitantes, com três ou quatro fábricas de porte razoável, fazendo com isso desnecessário o grande volume de transportes de alimento e de pessoas para irem trabalhar no outro extremo da cidade“.

Toda a preocupação em relação ao futuro de nosso planeta é transmitida nas telas por Swoboda, tornando sufocante e tensa a previsão desse pintor. Ele consegue passar a sensação angustiante de um projeto desenvolvido, que é coerente e que já foi feito e aprovado.

Jornal A Gazeta da Cidade, 1982

*O livro citado é desconhecido por seus familiares, e até o momento não encontrei nenhum registro sobre o mesmo.

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