Um jovem de sessenta e cinco anos: eng.º Swoboda!
Quando somos jovens, embora sabendo que hoje temos 20 anos e dentro de mais 20 teremos quarenta e dentro de outros 20 chegaremos aos sessenta, ainda assim acreditamos que seremos eternamente jovens. Em nenhum momento nos ocorre, ou pelo menos está tão distante de nós, a verdade que nosso avô nos lembraria: “Eu já fui o que você é e você será o que sou“.
Na verdade, os anos se escoam muito mais rapidamente do que conseguimos nos conscientizar.
Agora, poder chegar a tal idade, com a maravilhosa sensação de ter vivido equilibradamente em sua vida profissional e privada, de ter saído airosamente da balança da vida, em paz consigo mesmo e com o mundo, é de grande, de enorme significado.
Porém, ainda mais gratificante para si mesmo e admirável para os outros é decidir, a tal altura dos acontecimentos, traçar rumos de um novo modo de viver. Não aposentado, relegado a um segundo plano, inútil. Mas, válido, dando vazão à sua total criatividade, com plena dedicação, igual à aquela que lhe fez merecer uma profissão durante anos e anos. Aí, a idade não importa e então se confirma que, afinal, quando jovens não estávamos tão errados, porque efetivamente conseguimos nos manter na juventude. O que importa então é que uma nova e maravilhosa etapa se inicia, talvez mais importante que todas as outras que a antecederam.
Este prólogo, relativamente longo, é para descrever o que “aposentar-se” está significando para o nosso colega de 23 anos de convívio, o eng.º Hans Hermann Swoboda, que se despediu de nós em 25 de março de 1975, exatamente na data em que completava 65 anos de idade.
Foi nosso leal companheiro desde 1952, quando chegou ao Brasil como componente do Grupo Focke. Participou de todos os altos e baixos, desde o Convertiplano HCI, do Beija-Flor e de todas as lutas. Esteve presente ao primeiro traço na prancheta que fez nascer o BANDEIRANTE e que levou à aurora da indústria aeronáutica no Brasil. Momentos críticos, momentos bons, alternando-se desde os velhos barracões do PAR até o novo prédio X-10. Finalmente, dali, o grande salto: a EMBRAER. E o eng.º Swoboda sempre integrado na equipe aeronáutica, aplicando a amplitude de seus horizontes aos projetos de nossos aviões, transmitindo aos mais jovens o seu conhecimento e induzindo-os a aprender a usar a sua própria criatividade.
Eis o homem cuja valiosa colaboração a EMBRAER ora perde.
Mas, o mundo das artes ganhou um ótimo pintor, em tempo integral. Ainda ouviremos falar muito deste jovem Sr. Swoboda, que com méritos já comprovados na pintura, parte em busca de sua plena realização nesse campo, com força total. Irá inscrever seu nome nos anais da arte e multiplicar seus quadros nas pinacotecas, temos certeza. Não lhe faltam atributos para tanto.
Para desejar-lhe maior êxito e prestar-lhe merecida homenagem, cerca de 50 membros da equipe pioneira estiveram presentes ao coquetel realizado no dia 25 de março último, no Salão Especial do Restaurante EMBRAER. E também fizeram presença alguns jovens que iniciaram sua carreira sob a supervisão do ilustre engenheiro.
As palavras que lhe foram dirigidas por nosso Diretor Superintendente, eng.º Ozires Silva; Diretor Técnico, eng.º Guido Pessotti e Gerente de Projetos, eng.º Balata, no momento em que lhe foram entregues um “poster”, um quadro caricaturado com a assinatura de todos os seus companheiros e uma maquete do BANDEIRANTE, com o prefixo PT-SWB e com esquema de pintura por ele idealizado, serviram de símbolo à amizade, admiração e respeito pelo homem e pelo engenheiro e gratidão pela inestimável colaboração emprestada durante 23 anos à causa do desenvolvimento da indústria aeronáutica no Brasil.
Acompanham-no mais do que nossos votos, a certeza de pleno êxito em sua nova órbita de atividades.
Texto: Ruth S. de Meneses, jornal O Bandeirante, abril de 1975